De 22/2/2010 a 17/4/2010
Expedição gráfica
23 de fevereiro a 17 de abril de 2010
exposição de desenhos, gravuras e fotografias de Yili Maria Rojas.
artista residente
Expedição gráfica
Yili Rojas*
Na exposição na Galeria Gravura Brasileira a artista apresenta um conjunto de xilogravuras, litografias e desenhos. Estas imagens são resultantes dos registros e das reflexões feitas dentro de percurso de seis meses realizado em 2009 por vários estados do norte e nordeste do Brasil numa investigação técnica e poética sobre as possibilidades gráficas.
Com o conjunto de imagens Yili Rojas apresenta algumas das questões que foram visualmente relevantes no percurso e das que ela se apropria como se estivesse compondo um alfabeto, destacando objetos e elementos isolados da paisagem sem construir narrativas de viagem propriamente ditas.
A Expedição Gráfica, que é desenvolvida junto com o fotógrafo Isaumir Nascimento, é um projeto em construção e prevê futuramente o trânsito dos artistas por outros eixos geográficos. Mas dados sobre o projeto podem ser obtidos no www.artista-em-viagem.blogspot.com
Viajar e fazer arte
(texto publicado no site http://www.reticenciascritica.com/)
Por Yili Rojas e Isaumir Nascimento*
“Às vezes, basta-me uma partícula que se abre no meio de uma paisagem incongruente, um aflorar de luzes na neblina, o diálogo de dois passantes que se encontram no vaivém, para pensar que partindo dali construirei pedaço por pedaço a cidade perfeita, feita de fragmentos misturados com o resto, de instantes separados por intervalos, de sinais que alguém envia e não sabe quem capta.”
Ítalo Calvino em As cidades invisíveis.
Ítalo Calvino nos oferece nas Cidades invisíveis diálogos imaginários entre Marco Pólo e Kublai Khan que se intercalam com a descrição de cidades não tanto pelo que elas têm na sua aparência física e aspecto geográfico, mas pelo poder que elas exercem sobre homens e mulheres que as visitam ou habitam. No relato cada uma das cidades tem um nome feminino e um caráter próprio e remete a buscas humanas, anseios e frustrações, mas do que a territórios objetivos – se é que se pode falar da existência destes.
Marco Pólo viaja para conhecer o magnífico império do Khan e volta para relatar a este o que encontra. O relato para um grande Khan que não conhece seus próprios dominós exigiria do viajante ao menos um pouco de rigor descritivo, mas ao contrário de falar de arquitetura, fronteiras ou numero de habitantes, Marco Polo parece, enquanto que busca nas suas reminiscências, estar inventando as cidades a cada momento em que fala delas. O Marco Polo de Italo Calvino cria imagens com suas palavras e leva o Khan para outros territórios, ele é uma espécie de poeta-relator-viajante.
Tudo indica que antes de poder fornecer relatos confiáveis, os artistas viajantes de todas as épocas nutriram sua criação artística com os encontros e com a diversidade de luz, cor, anatomia, topografia, clima, alimentação, línguas, etc., que os aguardava fora de seus lugares de origem. O artista se desloca e quer produzir uma obra em relação com sua experiência de mobilidade, não especialmente o artista contemporâneo, mas o artista desde o momento em que sua figura tomou forma historicamente.
Há varias formas de viajar. O viajante, por exemplo, sai da sua cidade e vai se misturando com aquilo que encontra para compreender um pouco mais a fundo o que o turista deixa de perceber na sua passagem apressada. Os turistas viajam para deixar para trás suas rotinas e utilizar parte dos bens que alcançam desempenhando tarefas profissionais, em experiências novas, exóticas ou excitantes. Ao empreender a Expedição Gráfica nos consideramos artistas em viagem que querem recolher registros, sabendo que estes não são índices dos lugares, mas sim os sinais de uma experiência e de uma procura particular neles.
Saímos de São Paulo em março de 2009 rumo ao norte e nordeste brasileiro. A partir de cidades do Cariri cearense percorremos seis estados do Brasil por terra e algumas vezes por via fluvial, pois ver através da janela nos interessava tanto quando o chegar a algum lugar. Antes de sair da metrópole paulista fizemos uma lista de propostas para pautar a viagem, eram elas: viajar e fazer da viagem um laboratório artístico; produzir uma obra gráfica e fotográfica em trânsito; deslocar-nos durante vários meses nos expondo continuamente a novos espaços e relações; tentar ver os lugares para além de estereótipos e de cartões postais; deixar rastros na paisagem; enriquecer nosso léxico de experiências e formas; aprender mais sobre a gráfica e a fotografia através do contato com espaços e artistas.
Após seis meses de percurso, já de volta ao ponto de partida, temos em mãos uma rede de contatos, cadernos e mais cadernos desenhados, centenas de fotografias, textos, objetos colecionados e o olhar descentralizado e crítico de quem encontrou uma produção artística intensa e fecunda em cada um dos lugares de passagem. Hoje reconhecemos que tendo estado em inúmeros ateliês e tomado contato com diversos procedimentos da gráfica e das artes visuais em geral, assim como com propostas conceituais variadas, trouxemos para nosso trabalho um leque de possibilidades e questões antes inexistentes. Intervimos na paisagem deixando marcas gráficas num exercício de transportar imaginários e este nos mostrou novos rumos dentro da nossa prática da gravura e da fotografia.
A experiência artística em trânsito, o olhar intencionado e reflexivo sobre a própria natureza do nosso olhar, tudo isto se mantém pulsando no difícil ato de edição em que estamos agora. A viagem continua para dentro do material produzido, local de todos os locais da nossa passagem. Estamos no feliz impasse de, depois de muito ter andado e visto, ter que relatar usando como estratégia a invenção de lugares.
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