Gravura Brasileira

Entre o Brilho da Pele e o Esforço do Amor

Entre o Brilho da Pele e o Esforço do Amor

De 3/2/2015 a 7/3/2015

Obras

"Entre o Brilho da Pele e o Esforço do Amor"

Sandra Lapage e Carlos Pileggi

07 de fevereiro a 07 de março de 2015

                 

 

Exposição dos trabalhos desenvolvidos na residência de 6 meses na NARS foundation em Nova Iorque.

 

Entre o brilho da pele e o esforço do amor

Por Sandra Lapage e Carlos Pileggi

texto de Priscila Nasrallah

 

A exposição conjunta dos artistas Sandra Lapage e Carlos Pileggi apresenta trabalhos produzidos em sua mais recente residência artística no Nars Foundation em Nova York. Combinando traços de ambos os trabalhos, o titulo da exposição é uma bela porta de entrada para o mundo a parte criado pelos artistas. O brilho da pele faz referência ao trabalho de Sandra. Suas instalações feitas em papel fazem alusão a figura humana. A forma do corpo está onipresente em seu trabalho. Seja como moldes do corpo, pela textura e cor dos papéis ou pela ausência da forma e rastro deixado. Trabalhando sempre com a dualidade, a artista manipula de forma violenta imagens da história da arte europeia desde tempos medievais até o século XIX, contrapondo com a estética brasileira de adaptação. A aparente fragilidade do trabalho é contrastada com o acúmulo quase bruto dos materiais apresentados. As figuras são ilustradas com métodos experimentais de xilogravura. Nesses experimentos Sandra trabalha com extrato de nogueira sobre largas matrizes de madeira, se distanciando cada vez mais da tradição da xilogravura. O contraste, a dualidade, estápresente no método e no conceito. Ora a artista experimenta com técnicas tradicionais, ora utiliza a impressão da xilogravura da maneira mais tradicional, imprimindo com tinta a óleo sobre papel japonês, no caso das peças vermelho e pretas.  

 

O trabalho escultórico se refere à dicotomia entre o publico e o privado. Os corpos vazios exprimem a pressão sofrida por razões externas. O corpo desaparece e é imergido no ambiente, esvaziando o ego. A impossibilidade de definir limites no tempo em que vivemos é o significado predominante no trabalho da artista, refletindo a descoberta da sua multi-culturalidade. A constante sensação de pertencer a duas nações é traduzida em seu trabalho. Nasceu no Brasil, mas passou a infância entre Bélgica e Espanha, voltando já adolescente. A extrapolação de limites é sentida também pelo espectador que se vê obrigado a entrar em suas instalações, andar entre os corpos, desviando dos acúmulos, quebrando a barreira entre a obra e o público. Fazendo um paralelo com sua história de vida, de alguém que desconhece as limitações de fronteiras culturais, de vivenciar o não pertencimento em lugares que considera sua casa. A sensação de sermos um ser estranho dentro daquele mundo criado por ela é, de forma ambígua, acolhedora.  

 

O trabalho de Carlos Pileggi se traduz em diversas releituras da gravura. Através da estética do zine - abreviação de fanzine – Carlos explora a gravura em todos seus formatos. Fazendo com que técnicas tradicionais e experimentais coexistam dentro de um só trabalho. Utiliza-se de fotocópias, impressão e mídia digital, mesclando-as com gravura em metal, linoleogravura e gravura em madeira. Junto com sua continua investigação dos meios de reprodução, o artista incorpora a pintura e o desenho a seus múltiplos. Usando pena, canetas de desenho técnico e nanquim, os trabalhos se desdobram em aquarelas, monotipias e colagens. O processo se repete nessa reativação de materiais que ao serem copiados dão origem a mais colagens e composições provocando a inquietude do artista ao tema de reprodução na arte, do valor da peça única e do meio utilizado. O trabalho de Carlos enfatiza o valor da prática em si, do processo criativo, se distanciando do valor do material. O desenho em água tinta em papel algodão tem o mesmo valor de um xerox.

 

A busca pelo rompimento com os limites é uma característica presente nos trabalhos de ambos os artistas. A estética do zine permite que o trabalho de Carlos tome as mais diversas formas, o liberando para misturar processos. 

A falta de preciosismo com que Sandra lida com materiais considerados nobres também exalta seu processo de criação.  A forma com que manipula os materiais para que estes tomem formas acontece de forma intuitiva, quase primal. Lembrando o artista francês Jean Dubuffet que se posicionou como  rebelde desafiando os valores do mundo das artes no começo do século XX. Sua revolta contra a beleza e o conformismo tem uma grande influência na arte de Sandra e consequentemente na de Carlos. Trabalhando lado a lado, seus trabalhos parecem acontecer simultaneamente. A exposição reflete o que acontece em seu atelier, onde os trabalhos são expostos lado a lado de maneira randômica. 

 

A paleta de cores escolhida pelo casal também é bastante similar. Em visita aos seus respectivos ateliês na Nars Foundation já era possível ver a semelhança das cores. Carlos fala da angustia do amor, em preto, branco e vermelho. Sandra retrata seu inconsciente e o inconsciente coletivo da persona global através do vermelho e tons terrais. Enquanto o trabalho de Carlos traz personagens do cotidiano, a figura retratada no trabalho de Sandra são figuras históricas que ressonam na memória do espectador. A figura humana se apresenta de forma reconhecível em ambos trabalhos. Porém trazem aspectos melancólicos. Seja porque nas obras apresentadas o corpo é retratado com formas irregulares, formas que invocam o sofrimento e a assombração. Porém estas são sensações universais. A dor do amor e da perda, a tristeza e melancolia que vêm com os esforços do amor. Assim como o estranhamento de ser um corpo pensante em um mundo novo, de ser um estrangeiro um lugar conhecido. O tom vermelho se destaca na grande maioria dos trabalhos. O vermelho carrega a presença de algo mais profundo. A cor usada para representar o amor, a vida e a morte, faz com que os trabalhos provoquem as mais diversas reações, sempre lembrando que estas são emoções vividas por todos nós. 

 

 

Carlos Pileggi

"Carlos Pileggi propõe a gravura no campo expandido das novas tecnologias — fotocópias, impressão digital e mídia digital, em coexistência com as tradicionais — gravura em metal, linoleogravura e gravura em madeira, além da incorporação de meios únicos (desenho e pintura) em seus múltiplos. Tendo a estética da “zine gráfica” como espinha dorsal para sua pesquisa poética, Carlos propõe a amplificação do formato tradicional de codex, ou livro de artista, para amplas instalações interativas que submergem e englobam o visitante."

 http://cargocollective.com/pulga

 

 

 

 

 

Sandra Lapage

"O significado fundamental do meu trabalho é a impossibilidade de definir, contemporaneamente, limites, seja em termos de linguagem ou prática artística, seja em termos de nacionalidade ou identidade, especialmente relevante para aqueles que migram por motivos familiares, de trabalho, religiosos, étnicos ou políticos.

Minha prática lida com a construção de figuras heteróclitas, resíduos de diversas experiências pessoais, representadas de um lado pela apropriação — que eu não trato como prática conceitual, mas como um salvo conduto para trabalhar entre os diversos meios em que sou uma estrangeira — e, de outro, por uma coexistência sincrética de diversas linhas de pensamento e de práticas com as quais construo minha identidade e cultura.

Eu trabalho com a supressão de fronteiras em níveis diferentes: entre práticas artísticas, espaço bidimensional e escultórico, destruição e construção, interno e externo, identidades culturais e idiomas coexistentes, presente e passado.

A eliminação de limites entre processos expressa uma cultura plural. Em meu trabalho eu justaponho velho e novo mundos. Eu manipulo violentamente imagens da arte européia da Idade Média ao século XIX, reduzindo-os a elementos construtivos que são evocativos da estética brasileira da auto-construção e improvisação; estes elementos são tumultuosamente arranjados em instalações, e a precariedade estrutural e a fragilidade do papel são elementos evidentes para o observador. O processo de destruição e o restauro de materiais se traduz em potencialidade. Destruição se torna construção. Meu trabalho elude uma narrativa tradicional, com começo e fim. Trabalhando com rastros, entrelaço racional e irracional. Para o observador, a imagem em fragmentos busca oferecer uma experiência pessoal e aberta do trabalho."

texto da artista 

Sandra Lapage

www.sandralapage.com

 

 

 

Sandra Lapage - currículo

 

Exposições

2014 Open Gate Project: Part 3, 101 Hall Street, NYC http://vimeo.com/114479576 | Evanescence, Gowanus Loft, individual e residência de 10 dias, NYC http://vimeo.com/113878554 | http://vanderbiltrepublic.com/post/102188164530/evanescence | Layers of response, coletiva dos residentes na NARS Foundation, NYC http://narsfoundation.org/exhibition_layResp.php | Curaticism, spoken words exhibition, NARS Foundation, http://narsfoundation.org/exhibition_gam1.php | Dreamcatcher, coletiva na Space Womb Gallery, NYC http://vimeo.com/110532852 | Interference, coletiva de dois artistas na Alumni Room Gallery, Tuohy Hall, Saint Joseph’s College, NYC, curadora Ramona Candy http://vimeo.com/109340052 | Art From the Heart 2014, Gowanus Loft, coletiva organizada pela Vanderbilt Republic, NYC, curadora Katie Peyton http://vimeo.com/109340051 | Drawing Democracies, Steuben Gallery no Pratt Institute, NYC, coletiva organizada pelo Pratt Drawing Club | Drawings along Myrtle, coletiva organizada pelo Pratt Institute, NYC; curadora Jennifer Shepard | Consulado do Brasil em Nova York, coletiva http://tinyurl.com/pyhqykx | Maxxx Project Space, uma individual “em fluxo” durante um mês, Suíça http://cargocollective.com/sandralapage/Maxxx-Project-Space

2013 MFA Thesis Exhibition, Institute of Contemporary Art, Portland, Maine http://tinyurl.com/mwfbjps

http://index.meca.edu/mfa2013/

2012 Programa anual 2012, individual, Centro Cultural São Paulo http://tinyurl.com/ko6uvy8 | MFA Retrospective, Maine College of Art, Portland, ME | SP Estampa, Galeria Gravura Brasileira, São Paulo

2011 MFA Retrospective, Maine College of Art, Portland, ME

2010 Open studios, summer residency, School of Visual Arts, New York 

2009 Amazon suite, individual, A Hebraica, São Paulo | Wildlife Artist of the Year 2009 Exhibition, Mall Galleries, London

2008 Impulso, Emma Thomas Gallery, São Paulo http://emmathomas.com.br/exposicao/impulso/ | Wildlife Artist of the Year 2008 Exhibition, Mall Galleries, London

2007 Amazon suite, individual, Embaixada do Brasil em Bruxelas 

2006 MARP - Programa anual 2006, Ribeirão Preto | Urban Paintings, individual, Cultural Blue Life Art Gallery, São Paulo

Formação acadêmica

2013 Master of Fine Arts in Studio Arts, Maine College of Art, Portland, ME

1999 Arquitetura e urbanismo FAUUSP, Universidade de São Paulo

Residências

2014 Residência de 6 meses na NARS Foundation, Julho/Dezembro 2014, financiada por projeto no Catarse http://catarse.me/pt/sandranars | Villa Ruffieux, Sierre, Switzerland - Janeiro/Março 2014 http://www.chateaumercier-residence.ch

2010 School of Visual Arts Summer Residency, Printmaking and Artist Books, New York

Publicações e prêmios

2014 ovitro.com.br entrevista por Priscilla Nasrallah http://tinyurl.com/n2lh7vl

2013 Blurring boundaries — a process of self-awareness (Lulu Books) http://tinyurl.com/pgr9vdv | Vermont Studio Center Honorable Mention Artist, Robert Sterling Clark Fellowship, http://tinyurl.com/mfqz84r | Artigo: printeresting.org http://tinyurl.com/nkf4f65

2011-2013 Presidential Scholarship no Maine College of Art

Trabalhos em coleções

Villa Ruffieux, Switzerland | Atelier Multiples-Éditions de l’école Cantonale d’Art du Valais, Switzerland http://tinyurl.com/ml5gx33 | Hebraica, São Paulo

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