De 14/5/2022 a 18/7/2022
Corpo, mapeamentos
gravuras, desenhos, fotografias e pinturas
Paulo Camillo Penna
galeria Gravura Brasileira
Em sua terceira individual na galeria Gravura Brasileira, o artista Paulo Camillo Penna reúne cerca de 40 obras em fotografia, desenho, gravura e pintura realizadas nos anos de 2021 e 2022.
O caminhar do artista, o corte da goiva, o gesto arrastado do pincel e a linha do lápis que risca o papel. Assim como o sangue circula pelo corpo, o artista transita pela cidade e neste caminhar reflete sobre a paisagem, a matéria e as camadas que compõem a sua história.
O corte na madeira traz a imagem à luz. Ao buscar o Itororó, coberto, canalizado e desaparecido sobre décadas de dominação do homem sobre a paisagem, Penna redescobre a anatomia do corpo, as fendas que se abrem entre os prédios e viadutos e os pequenos pontos de luz que surgem no céu de São Paulo.
Parabéns ao artista Paulo Camillo Penna por ser um dos agraciados com a bolsa "Individual Support Grant" da Gottlieb Foundation.
https://www.gottliebfoundation.org/
Corpo, mapeamentos.
"A luz irrompe a madrugada e mobiliza os sentidos. Olhar, escutar, cheirar, tocar. Caminhar e perceber o próprio corpo, seres e lugares da cidade. Desenhar, gravar, fotografar, imprimir, pintar. Um movimento que opera no interior desses fazeres e os transborda, em ações de justaposição, sobreposição, invasão, troca. Imagens tomam forma em território híbrido entre práticas e figuras. As fotografias tiradas em caminhadas pelas margens ocultas do córrego vizinho se cruzam enquanto imagem impressa com xilogravuras, cujos cortes figuram segmentos e seções de corpos. Desenho diário de figuras tiradas de vegetais e animais, de exames e vídeos do interior do corpo humano, de mapas de hidrografias e de representações de constelações irradiam suas imagens. A cor invade desenhos gravuras e fotografias e se manifesta na pintura sobre papel ou madeira, articulada a incisões. Desenhos, gravuras, pinturas e fotografias se permeiam, em um imaginário de figuras que se hibridizam e se metamorfoseiam.
Percursos circulares de fazeres, figuras e imagens, que se cruzam e de desdobram em espiral, e se abrem ao devir de novas manifestações.
Persistência e insistência em viver."
texto do artista
abril 22
Paulo Camillo Penna
Corpo e mapeamentos caminhantes.
Em meio à pandemia, o artista fotografa a cidade. Não toda a cidade. O entorno de sua casa, no centro de São Paulo. Avenidas vazias no amanhecer, enquanto ele perambula sem destino. Às vezes, a luz de uma janela solitária. Depois, em casa, de volta, essas imagens são impressas domesticamente e associadas a estampas xilográficas cujas linhas evocam corpos fragmentados. Essas imagens combinadas sugerem uma existência subjetiva nesses espaços – me imagino na megalópole melancólica, eu isolada, cada um de nós isolados. Porém, é também essa situação silenciosa que permite o contato com nossos pensamentos, que se tornaram mais ruidosos diante da retração da dinâmica urbana contemporânea.
Numa primeira visada, esta produção de Paulo Penna pode evocar o trabalho documental dos históricos artistas-viajantes, presentes no Brasil entre os séculos XVI e XIX vindos para capturar dados e repassá-los aos poderes coloniais – mapeavam a natureza física e humana. Essas figuras ganharam nova roupagem na atualidade, sendo compreendidas – guardadas as devidas diferenças contextuais – como artistas-etnógrafos. Os viajantes e os etnógrafos são tipos que compartilham a compreensão do Outro como objeto de pesquisa.
Segundo a literatura, entendemos que os primeiros alimentavam uma maior distância de seus objetos, buscando olhá-los com as lentes científicas que, acreditava-se, deveria fornecer um registro imparcial do que era visto e experimentado (hoje essa interpretação já não é mais válida, pois passamos a compreender como o próprio recorte e mesmo o registro nunca pode ser destituído de nossa bagagem cultural). Entre os segundos, a relação com o objeto humano se mantém, embora nessa esfera o artista deva conduzir a pesquisa sobre o Outro a partir de sua imersão na cultura alheia e a organização dos elementos coletados (materiais ou não) sob critérios definidos por ele mesmo ou em conjunto com a comunidade com a qual atuou.
Já se criticou essa perspectiva etnográfica da arte contemporânea que segue operando atualmente, embora de maneira menos ingênua em relação às próprias contradições, seja em termos de autoridade ou de alteridade (vejamos “ O artista como etnógrafo”, do teórico estadunidense Hal Foster, publicado em 1995).Do not miss UK perfect fake watches on the reliable website!
Assim, o que Paulo Penna faz distingue-se do que faziam tanto os antigos viajantes como os mais recentes etnógrafos. Na performance que compreende seu caminhar pelo bairro, é apenas ele quem está envolvido no trabalho. Não há públicos, nem agentes do sistema artístico; nem pretensões científicas ou políticas demarcadas. Esse vagar é sua maneira de dar sentido à suspensão de suas atividades diárias, por meio das quais seu corpo experimenta alguns espaços urbanos que estão inscritos no seu cotidiano.
Resultam dessa experiência as imagens capturadas que são apresentadas sobre e justapostas pelas estampas, meio foto meio gravura. Nas imagens capturadas, vejo pichações e graffitti, marcas deixadas por corpos que estiveram ali ocupando esses espaços de passagens. Nas estampas, mais corpos – desta vez apreendidos numa linguagem gráfica que emana humanidade. A atmosfera que criam reunidas é de sonho e solidão. Sozinhas são pranchas volantes; todas juntas poderiam configurar um caderno de viagem.
Impossível se falar em caminhar como prática artística (ou elemento fundamental dela) e não remeter à publicação do livro do teórico da arquitetura italiano Francesco Careri no Brasil, Walkscapes, em 2013 (originalmente publicado em 2002). Nele, o autor elenca períodos e grupos artísticos que refletiram sobre o caminhar e o utilizaram como linguagem, remetendo ainda ao passado nômade da humanidade. No trabalho de Penna, vemos uma espécie de deriva – deixar-se vagar – como aquelas que informaram dadaístas, surrealistas e, depois, situacionistas (cidade banal, onírica, lúdica).
Desde então, vivenciamos a pandemia: as cidades se esvaziaram e não saíamos mais – não mais topamos casualmente com ninguém. Com isso, o artista não planejou estreitamente seu percurso, tampouco previu em detalhes as ações que desenvolveria. Com esse caminhar não desejou ser produtivo; foi existindo no seu entorno vazio (preenchido por edifícios e ruas) e disso gerou imagens. Em nosso encontro com essas pranchas, sentimos como nossos corpos viveram o isolamento, impotentes, tomados pela melancolia à qual fomos entregues diante da impossibilidade de nos movermos.
Ana Avelar
Curadora e Crítica de Arte
“Corpo, mapeamentos” fica aberta ao público até o dia 08 de julho de 2022 na galeria Gravura Brasileira, de segunda a sexta-feira de 14 às 18h. Não é necessário agendamento. O espaço segue as recomendações das autoridades de saúde com distanciamento social, álcool em gel e uso obrigatório de máscara.
Abertura: 14 de maio de 2022, sábado, 13h às 17h.
Exposição: de 14 de maio a 08 de julho de 2022.
Local: Galeria Gravura Brasileira
R. Ásia, 219, Cerqueira César, São Paulo, SP
f. 11.3624.0301 / WhatsApp: 11.99385.9655
contato@gravurabrasileira.com
Horário: segunda a sexta-feira, 14h às 18h, não é necessário agendamento
Entrada gratuita
Sobre Paulo Camillo Penna
Nascido em São Paulo, em 1970, Paulo Camillo Penna vive e trabalha em São Paulo. Doutor em artes na Universidade de São Paulo. Fez estudos de pós graduação na Byam Shaw School of Arts em Londres. Coordena desde 2006 o Ateliê de Gravura do Museu Lasar Segall. É proprietário, com Adalgisa Campos, da Casateliê, espaço independente de produção, ensino e venda de arte em São Paulo. Fez exposições individuais sendo as mais recentes "Desenho, fluxo, imagem" nas Oficinas Culturais Oswald de Andrade, “A Senhoria” na vitrine do Museu Lasar Segall no Metrô Santa Cruz - SP, “Hora Absurda” na Gravura Brasileira - SP, “A que se destina”, no Centro Universitário Maria Antonia - SP e “Figuren aus Brasilien” na Galerie Wildeshausen - Wildeshausen, Alemanha. Participa regularmente de exposições coletivas, entre as quais "Xilo, Corpo e paisagem" - SESC Guarulhos e SESC Pinheiros, “Gravura Extrema - Europalia Brasil” - Le Centre de la Gravure et de l`Image Imprimée - La Louvière, Bélgica; “Gravadores Brasileiros Contemporâneos”, exposição itinerante no Hillyer Art Space Washington, EUA; Fundacion Sebastian e Instituto de Artes Gráficas de Oaxaca, México; “V ème Biennale Internationale de la Gravure D`Ile de France”, Versailles, França; “Impressões” – Santander Cultural de Porto Alegre e “Do Cordel à Galeria” – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand. Realizou projetos de arte pública, entre as quais: "Projeto Pélago" e "Projeto Tamanduateí" na cidade de São Paulo. Possui obras em coleções particulares e públicas, como Pinacoteca o Estado de São Paulo; Museu de Arte Brasileira, SP e Museu de Arte Contemporânea Dragão do Mar, Fortaleza.
http://www.acasatelie.com.br/paulo-camillo-penna
Sobre a Galeria Gravura Brasileira
A galeria Gravura Brasileira foi fundada em 1998 com a proposta pioneira de ser um centro de divulgação e valorização da arte da gravura. Nosso trabalho é focado na realização de exposições, conversas com artistas, lançamentos de livros de artista e álbuns de gravuras e intercâmbio com ateliês de todo o Brasil e exterior. Somos um centro de referência para as artes da gravura no país e recebemos a visita de estudantes, curadores e colecionadores de todo o mundo para conhecer nosso acervo que retrata os cem anos da história da gravura no Brasil, de Goeldi aos contemporâneos. A Galeria realiza exposições anuais, participa em Feiras de Arte e realiza o SP Estampa, festival de artes anual com exposições, workshops, oficinas e palestras.
Rua Ásia, 219, Cerqueira César, São Paulo, SP - CEP 05413-030 - Tel. 11 3624.0301
Horário de funcionamento: Segunda a Sexta: 12h00 às 18h00 ou com hora marcada